domingo, 23 de março de 2008

Cap. 6 | Paladar

Parece meio incoerente falar sobre paladar em um projeto de design gráfico, mas essa estranheza se perde ao lembrar o quão abrangente nossa profissão é. Podemos trabalhar para qualquer empresa e, por mais abstratos que seus produtos sejam, temos que torná-los reais e necessários na cabeça dos consumidores.

O estímulo pelo paladar pode não ser necessariamente um fim, o produto a ser vendido no final das contas, mas sim um meio para que o real objetivo seja atingido (desde que haja coerência nessa opção).

Primeiramente, explicarei como funciona o sistema gustativo no nosso organismo na percepção de sabores:

Na parte de cima da língua, há pequenas elevações que podem ser vistas a olho nu, as papilas.

Cada papila contém cerca de duzentas células sensitivas, os botões gustativos, que só podem ser vistos com auxílio de microscópio. Na língua há cerca de nove mil botões gustativos.

Quando os botões gustativos são estimulados por partículas de alimento, eles enviam mensagens para o sistema nervoso. Este, por sua vez traduz as mensagens nas sensações de sabor.

Com os botões gustativos, percebemos quatro tipos de sensações fundamentais: doce, salgado, amargo e azedo. O sabor de um alimento envolve não apenas uma combinação dos quatro, como também o cheiro e a textura do alimento.

Quando comemos alguma coisa, para sentir o gosto é fundamental o papel da saliva. É ela quem leva os sabores para dentro das papilas gustativas, que, por sua vez, enviam os sinais ao cérebro.


Outras informações importantes sobre o paladar:

- Como tudo na anatomia humana, uma língua nunca é igual à outra. Tem gente, por exemplo, que tem mais papilas gustativas em partes da língua mais sensíveis aos sabores doces. A ciência ainda não sabe bem, mas pode ser por isso que algumas pessoas preferem doces, e outras gostam mais de salgados.

- O ser humano é um onívoro, palavra que significa "come de tudo". A humanidade chegou aonde chegou porque em todo lugar da Terra, a gente sempre encontra algo pra comer.

- É necessário que as substâncias estejam dissolvidas em água para que possamos sentir os sabores.

A intensidade da percepção dos sabores depende:
- Do número de papilas;
- Da penetração da substância no interior das mesmas;
- Da natureza, concentração, capacidade ionizante e composição química da substância.


Há quem diga que se há um tipo de amor incondicional, é o amor pela comida. Comer é tão essencial quanto dormir ou respirar, mas nenhum deles proporciona a diversidade de prazeres e sensações que o simples ingerir de um alimento pode dar.

Hormônios como a endorfina, encontrada no chocolate e na pimenta, melhoram a memória, o humor, o sistema imunológico, removem radicais livres (agindo contra os efeitos do envelhecimento), entre outros benefícios.

O paladar não funciona por si só, pois está conectado diretamente ao sentido do olfato, que é o responsável pela percepção de sabores diferentes dos 4 que os receptores das papilas conseguem identificar. Até aí, nada de mais, mas o sentido que também está fortemente relacionado ao gustativo é o visual.

A falta da visão não nos impede de sentirmos o gosto dos alimentos, mas ao vermos o que vamos comer (ou, em alguns casos, o que só ficaremos na vontade), a intensidade desse desejo se potencializa.

A imagem suculenta de uma pizza quente sendo servida, de um copo gelado de água, mesmo que somente na nossa imaginação, têm um efeito imediato e devastador. O mesmo efeito devastador podemos atribuir a uma comida com um aspecto que nos causa estranheza e que não é nada convidativo.

Para evitarmos que isso aconteça, é importante que haja um bom trabalho fotográfico e de tratamento de imagens para um cardápio de restaurante, por exemplo. Se os bolinhos de bacalhau estiverem com uma cor esverdeada na impressão, os clientes podem não se apetecer ou atribuírem a falta de qualidade do papel ao produto propriamente dito. Nos casos em que não podemos conseguir uma imagem de qualidade, o melhor é não colocar figura, porque ela pode ter o efeito contrário do esperado.

O projeto gráfico para alimentos é primordial e deve trabalhar para estimular esse desejo de comer. Usar cores quentes estimula o apetite, cores frias representam melhor refrescância e saciam a sede e elementos que representam graficamente os efeitos da temperatura tornam a imagem mais real e saborosa.

O uso do paladar como meio para um fim é bastante usado em lugares onde os consumidores ficarão em um período prolongado de tempo. Experiências de sucesso nesse aspecto são máquinas de café em salas de espera, guloseimas nas filas de mercados e lojas, cafeterias em livrarias e até mesmo os vendedores ambulantes dos ônibus.

Como tornar a embalagem de leite condensado apetitosa? Um pudim impresso na lata, por exemplo, funciona como um meio para vender o ingrediente que sozinho talvez não tenha o mesmo apelo para o consumidor.

Ainda que uma imagem possa despertar apetite de uma maneira muito real, nada substitui a interação com a comida. Investir em meios de levar amostras do seu produto até o seu fornecedor, possível investidor, consumidor final, ou qualquer que seja o interessado, é sempre a opção mais eficiente. Melhor ainda se essa experiência for interessante e cativante, de modo que o consumidor a associe com algo positivo.

Nenhum comentário: